» » » » » » » Trisal do TikTok fala sobre desrespeito na internet: 'Acham que sempre cabe mais um'

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Natacha, Yuri e Demetro acumulam mais de 1 milhão de seguidores e fazem vídeos bem-humorados sobre poliamor. A Marie Claire, eles comentam sobre a curiosidade do público em saber o dia a dia da vida de um trisal e sobre o hate que sofrem: ‘Não nos veem como um relacionamento'

Quando Natacha, 26 anos, e Demetro, 33, se conheceram, não imaginavam que, em algum momento do relacionamento, seriam um trisal. Muito menos um trisal com grande visibilidade na internet. O encontro com Yuri, 29 anos, aconteceu de forma natural na vida do então casal, que começou o namoro em 2016.
“Nos conhecemos em uma empresa onde trabalhávamos os três. Demetro e Yuri já eram amigos, inclusive tinham namorado um bom tempo antes, em 2013. Eu estava conhecendo o Demetro, começamos a nos envolver e, a partir daí, como os dois eram amigos, conheci também o Yuri”, contou a influenciadora nordestina, sobre o início do relacionamento dos três.
Foi quando Natacha e Demetro marcaram de se encontrar na casa de Yuri que tudo começou. “Ele aceitou e nós fomos. Depois, começamos a visitá-lo com mais frequência e, assim, passamos a nos aproximar e a nos conhecer ainda mais.” Não demorou muito para os três perceberem o quanto tinham em comum.

“Fomos criando conexão e conversamos sobre tudo. Dividimos os problemas, as felicidades e começamos a passar 80% do nosso tempo juntos. Sem perceber, fizemos planos de dividir a mesma casa e já estávamos praticamente em um relacionamento sem nem ter acontecido o primeiro beijo, por exemplo. Tudo foi muito natural, só fomos vivendo. Bastava nós três, foi tudo muito mágico”, diz Natacha.
“Começamos a nos questionar. O que eu fazia para um, que era meu namorado, fazia para o outro, que era meu amigo. Na hora de trocar presentes, era sempre para os dois. Criamos uma troca muito bacana, mas estranha ao mesmo tempo. Por isso, teve um tempo em que eu e o Demetro decidimos ficar longe do Yuri. Foi aí que tivemos certeza de que estávamos nos gostando de outra forma. Nos sentíamos muito bem com ele, e eu e o Demetro estávamos em uma fase muito boa do nosso relacionamento. O Yuri não veio para 'salvar' algo que estava perdido, ele veio para somar”, continua ela.
A importância de se permitir
Nem Natacha nem Demetro nem Yuri haviam pensado, antes de se conhecer, em ter um relacionamento que não fosse no formato mais tradicional --com duas pessoas. “Na época, foi uma confusão de sentimentos. Tínhamos medo de dar errado, estávamos encantados, com receio, mas o sentimento foi maior e colocamos todas as nossas inseguranças de lado pra viver esse momento”, conta Natacha.

Demetro foi quem começou a perceber o que estava acontecendo e, em pouco tempo, o trisal oficializou o namoro. “Fomos vivendo e, aos poucos, as pessoas começaram a perceber. Perguntavam se éramos um trisal, e nós só concordávamos. Comentamos com os mais íntimos quando a gente já estava com muito tempo de relacionamento, seis anos depois.”
Juntos, os três enfrentam o estranhamento de quem não pensa na possibilidade de outros formatos de relacionamento. “Já ficamos constrangidos na hora de comprar alianças, por exemplo. Notamos os olhares esquisitos. Precisamos lidar com a sociedade totalmente dual quando o assunto é amor”, diz Natacha.

No Brasil, não há na legislação que contemple esse tipo de união, já que a Justiça tem como princípio a monogamia. Até hoje, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça não reconhecem o poliamor como entidade familiar. Isso não faz, no entanto, com que essa estrutura de relacionamento deixe de ser uma realidade.
Três anos depois do início do namoro, Natacha, Demetrio e Yuri decidiram criar um Instagram para compartilhar fotos juntos. “O intuito era só guardar nossas fotos, e colocamos o nome 3eponto, porque queríamos algo simples e que simbolizasse nós três. Depois de um tempo, veio a pandemia e gravamos uma trend no TikTok. Foi mais por diversão, mesmo, mas viralizou”, explica ela.

'Queriam saber mais sobre a gente'
O trisal viralizou não apenas nessa trend, mas em todos os vídeos postados nas redes sociais em que contava a realidade do poliamor. Com mais de 1 milhão de seguidores, a conta no TikTok, que também ganhou o nome de 3ePonto, já tem mais de 19 milhões de curtidas. Lá, eles contam curiosidades sobre o trisal, fazem trends e também dançam juntos.
O que mais chama a atenção é a forma leve como comentam sobre detalhes da vida de um trisal. Um dos vídeos mais assistidos se chama ‘Desvantagens em ter um trisal’, em que eles listam algumas situações sérias (e outras engraçadas): não poder se casar oficialmente, escutar os três lados de uma briga, a dificuldade de escolher algo para assistir e também para encaixar os três em uma foto, além da divisão da cama.

“Os vídeos são, de fato, sobre a nossa vivência. A partir daí, começamos a perceber mais cada detalhe do nosso dia a dia e anotamos tudo que possa virar conteúdo. Fazemos isso com bom humor, porque preferimos levar as coisas da forma mais leve possível e desmistificar o que pensam sobre o poliamor”, concordam Yuri, Natacha e Demetro.
Na internet, o preconceito também existe. Natacha relata alguns comentários maldosos ou críticas que o trisal normalmente recebe nos comentários das redes sociais. “Afirmam que somos irmãos, que somos crianças, que esse relacionamento não vai durar por muito tempo, que é marketing, que a família tem desgosto da gente, questionam nosso gênero, dizem que somos sustentados pelos nossos pais. Com a internet, sofremos muito mais preconceito, sempre acham que vai 'caber mais um'. Não respeitam, pensam que é bagunça.”
“Mas também recebemos mensagens maravilhosas. Nos colocam como referência, falam que nossos vídeos já os salvaram de depressões, que trazemos alegria, vêem que existem outras possibilidades de amor”, fala.

Depois sete anos do início do namoro, Yuri, Natacha e Demetro fazem um balanço do que eles mesmos aprenderam com o relacionamento e a visibilidade. “Respeitar o espaço do próximo é essencial. Nos desconstruímos todos os dias no nosso relacionamento. O amor é livre para ser de várias formas. Ele nunca é dividido e, sim, se multiplica.”

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