» » » Datafolha: 62% da população têm medo de ser agredida pela PM

Uma pesquisa da Datafolha revelou que 62% dos moradores de cidades com mais de 100 mil habitantes no Brasil têm medo de sofrer agressão da Polícia Militar (PM). O levantamento feito nesta terça-feira, 28, e divulgado nesta nesta sexta, 31, também apontou que o temor é maior entre jovens, pobres, autodeclarados pretos e moradores da região Nordeste.





População relata temor com relação à Polícia Militar em todo o país


Por meio de sua assessoria de comunicação, a Secretária de Segurança Pública (SSP) informou que não costuma comentar pesquisas por não conhecer a metodologia aplicada.
Em 2012, o mesmo estudo, também encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, indicou que 48% dos entrevistados relataram ter o mesmo medo. Na ocasião, eles ouviram moradores de cidades com 15 mil habitantes ou mais.
A pesquisa atual conversou com 1.307 pessoas de 84 municípios em todas as regiões do país. A margem de erro é de três pontos percentuais.
O medo de policiais militares não é exclusivo, já que o estudo mostra que 53% dos participantes também temem sofrer violência oriunda de agentes da Polícia Civil.
Outro dado alarmante é que 81% dos entrevistados disseram que podem ser assassinados. Deste total, 49% afirmam que isso pode acontecer já no próximo ano. A pesquisa também revelou que 52% da população têm algum parente ou conhecido que foi vítima de homicídio.
Subdimensionado

Para coordenador do Observatório de Segurança Pública da Bahia, Carlos Costa Gomes, esses dados ainda são subdimensionados. "Acho que os números ainda estão abaixo da realidade. É ainda maior. Não estou dizendo simplesmente que a polícia é um 'bicho papão', mas que está sendo mal gerenciada. As políticas nacionais e estaduais de segurança pública levam a isso".
Para Gomes, que também é pesquisador da Unifacs, o problema de insegurança é inicialmente uma questão nacional. "A raiz da insegurança nos grandes centros é a presença de drogas e armas que não são produzidas nos locais (estados). Elas vêm por meio de contrabando de outros países e esse é um crime federal. Então, é um contra-senso que o governo apenas faça o repasse de verbas para as secretarias estaduais enfrentarem a criminalidade que o governo federal não conseguiu resolver", afirma.
Gomes diz também que há uma política de armar fortemente a polícia para combater a criminalidade, que ele considera incorreta. "O bandido adquirir a arma de grosso calibre para impor terror é lógico, porque o criminoso não está preocupado com a população, mas é ilógico a polícia, que tem a missão de nos proteger, fazer o mesmo", salienta.
Gomes também é pesquisador (Foto: Haroldo Abrantes | Ag. A  TARDE | 30.03.2009)
Ele ainda ressalta que há um desprezo pela vida e que estão aumentando os números de mortes em confrontos com a polícia. "São mortes em operação de guerra, só o governo não diz isso. O normal seria a polícia investigar, prender, a pessoa ser julgada e ficar presa. Hoje, é exceção quando a pessoa é capturada sem ser morta", diz.
Para o estudioso, a situação não é culpa dos policiais. Eles são vítimas de um sistema que paga pouco e os força a fazerem bicos para incrementar o salário. Com isso, vão trabalhar já tensos. Além disso, ele destaca que os policiais envolvidos em tiroteios, alguns com mortes, não são afastados nem passam por tratamento, como acontece nos Estados Unidos.
"Não causa uma interrogação saber o motivo pelo qual os policiais estão matando o vizinho, matando o cachorro? Eu posso responder: os policiais estão verdadeiramente abandonados. Em qualquer lugar civilizado, o policial envolvido em tiroteio é afastado e tratado por psicólogo para que continue sendo um ser humano normal", afirma.
Gomes completa, no entanto, que "no Brasil, não. A cultura aqui é que o policial macho saca a arma, dá tiro e depois vai tomar cerveja. Isso acaba criando uma neurose, porque não é natural viver sob ameaça de morte e matar alguém. O policial acaba perdendo o controle".
Bahia
Na Bahia, casos de denúncias de policiais militares envolvidos em homicídios e agressões chamaram a atenção da mídia este ano. Um exemplo é o caso dos nove policiais militares da Rondesp Centralenvolvidos na morte de 12 jovens no mês de fevereiro, na Vila Moisés, localidade do bairro do Cabula, em Salvador.
O desfecho deste caso foi no último dia 24, quando eles foram absolvidos da acusação. O Ministério Público da Bahia (MP), no entanto, acusa os policiais de crime de execução, mas esta linha não foi aceita pela Justiça. Ainda cabe recurso.
Neste mês, outros três casos foram destaques. Um deles é do PM afastado Jorge Antônio Gomes dos Santos, suspeito de ter matado Fábio Luiz dos Santos Carmo, 33, após uma discussão em uma pizzaria no bairro da Ribeira. Jorge já responde por outro homicídio.
Jorge Santos não falou com a imprensa - Foto: Fernando Amorim | Ag. A TARDE
Jorge Antônio responde por duas mortes (Foto: Fernando Amorim | Ag. A TARDE)
O tenente PM Daniel Leite dos Santos, 37, preso em flagrante, é outro policial acusado de homicídio. Santos teria matado o pedreiro Antônio Carlos Costa Alcântara, 42 anos. O pedreiro foi morto com um tiro nas costas quando tentava socorrer o amigo Francisco Portela, que recebeu um soco no rosto e um tiro de raspão na cabeça deferidos pelo tenente. Outra pessoa também foi ferida na ação. O crime aconteceu durante uma festa na lavagem na Estrada de Pirajá.
No interior da Bahia, dois PMs foram presos em flagrante acusados de estuprar uma adolescente grávida em São Sebastião do Passé. O soldado Antônio Marcos Gomes dos Santos e o policial reformado Ednardo Rodrigues de Santana foram abordados por colegas de farda quando cometiam o crime.
A PM também abriu inquérito para apurar uma denúncia de que policiais militares teriam agredido o jornalista Marivaldo Filho, no último dia 6. De acordo com a vítima, a agressão aconteceu depois que ele fotografou uma suposta abordagem truculenta dos policiais a um amigo dele. Os policiais teriam gritado para que o rapaz apagasse a imagem e agredido Marivaldo em seguida.

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