Devido à crise financeira, o Brasil pode ficar de fora do ESO (Observatório Europeu do Sul), grupo de 15 países que opera telescópios no deserto do Atacama, no Chile.
No ano passado, a Câmara dos Deputados e os senadores aprovaram a entrada na organização. O projeto, no entanto, esbarrou em Dilma, que ainda não sancionou. O Brasil passa por uma grave crise e Dilma precisa cortar custos. Boa parte da comunidade científica, especialmente os astrônomos, cobra a liberação da verba, para que estudantes brasileiros possam utilizar com mais frequência os telescópios. O ESO possui três grandes centros de observação no Chile: La Silla, Paranal e Chajnantor.
"O acordo é uma grande oportunidade de desenvolver a ciência para os dois lados", afirmou o holandês Tim de Zeeuw, diretor-geral do ESO. "Queremos o Brasil e esperamos pela assinatura da presidente. É a chance para que os astrônomos brasileiros utilizem muito mais nossa infraestrutura para os trabalhos".
O fato de Zeeuw demonstrar preocupação com a demora reflete a necessidade do ESO em contar com o Brasil para desenvolver seu mais ambicioso projeto, que é a construção do E-ELT, o maior telescópio do mundo, com um espelho de 39 metros de diâmetro – o aparelho é a aposta dos astrônomos para desvendar perguntas como "se existe a vida fora da Terra". Zeeuw não imaginava que mais de cinco anos se passariam desde o convite oficial da entidade, então para o ex-presidente Lula.
A verba por parte do Brasil é tratada como fundamental para completar o valor do orçamento do E-ELT, para que o mesmo seja entregue no prazo, em 2025. Atualmente, o projeto beira os R$ 4,8 bilhões – a contribuição brasileira para a obra seria de 11% (cerca de R$ 525 milhões) .
O chefe administrativo do ESO, Patrick Geeraert, deu até um prazo para que Dilma tome sua decisão. "Vamos esperar até junho. Temos um compromisso de que 70% do valor investido no E-ELT voltará para o país de origem, através da contratação de serviços de empresas". Após a data, Patrick deve adotar um Plano B para o telescópio. Os membros do ESO só autorizam a construção do E-ELT se 90% do valor for alcançado. Com a demora do Brasil, os organizadores dividiram o projeto em duas fases.
A primeira está praticamente concluída – que é a terraplenagem do topo do Cerro Armazones, local de mais de 3 mil metros de altitude que receberá o megatelescópio no Chile. Falta, agora, completar os 90% da verba para a construção da estrutura do E-ELT. Será um telescópio com mais 100 metros de largura e altura aproximada de um prédio de 25 andares.
"Claro que sem o Brasil vamos ter de fazer mudanças", destacou Andreas Kaufer, diretor de operações do ESO. "Mas independente de tudo, o telescópio vai ficar pronto".
A empresa vencedora da licitação que comandará a construção do telescópio deve ser anunciada pelo ESO em até duas semanas. Se o Brasil não entrar até junho no grupo, dificilmente empresas brasileiras receberão contratos para trabalharem junto ao vencedor do consórcio para a confecção de peças.