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A galeota Gratidão do Povo foi posta no mar na manhã deste sábado (31) e a procissão continua no domingo (1º)

Um dia de sol forte, com mar calmo e pés na areia. Mas nada de farra: a manhã era de trabalho para as dezenas de devotos de Bom Jesus dos Navegantes, que, às 7h40 deste sábado (31), ajudaram a colocar a embarcação, de 4 toneladas na água.


 A tradição, que completa 125 anos, foi recebida com aplausos e fogos.
Pesando quatro toneladas, a galeota Gratidão do Povo foi posta no mar neste sábado; a procissão continua no domingo (1º)
(Foto: Betto Jr./CORREIO)
“Desde pequeno, eu participo. Este ano, deixei de viajar para estar aqui”, disse o empresário Lucas Sacramento, 32 anos, um dos voluntários que botaram o barco no mar. Quem também colaborou foi o técnico de informática Marco Viana, 42 anos. “É gratificante, dá a sensação de renovar forças. E, neste ano, Bom Jesus dos Navegantes ajudou e a galeota não encalhou, como já vi acontecer”, contou.
Antes da descida da Gratidão do Povo - que fica o ano todo guardada em um galpão ao lado da Igreja da Boa Viagem -, o padre Davi Oliveira dos Santos fez uma oração, na companhia dos integrantes da Devoção do Senhor Bom Jesus dos Navegantes. “Pedi bênção para os marinheiros e suas famílias. Que façam a viagem com paz e segurança”, disse o padre.
Comemorando 69 anos, a aposentada Maíza Celeste Canela escolheu a praia de Bom Jesus para passar a manhã do seu aniversário, neste sábado. “Todo ano, quando posso, venho ver a Gratidão do Povo descer. Amanhã, vou estar lá na Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia”, garante.
Há 40 anos participando da festa, o carpinteiro Clóvis dos Santos, 59 anos, é um dos mais velhos voluntários. “Eu estava na escola, passava por aqui e aproveitava para ajudar. Desde os 19 anos, estou aqui sempre. Nunca passei um Réveillon fora de Salvador”, diz. “A gente peca o ano inteiro. Essa é a hora de pagar os pecados”, declara. Clóvis, aliás, tem uma nova missão hoje. Ele é um dos marinheiros que ajudam a remar a galeota durante a procissão marítima, já com a imagem de Bom Jesus dos Navegantes.
TradiçãoTodos os anos é assim. No dia 31 de dezembro, depois de a embarcação entrar no mar, há a Missa do Embarque, que foi presidida, neste sábado, às 15h30, pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger. Às 17h, a imagem saiu em procissão da Igreja da Boa Viagem até a galeota, começando a parte marítima até o cais do Porto de Salvador. De lá, seguiu para a Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio.
No domingo (1º), ponto alto da festa religiosa, o barco faz o percurso inverso. Às 8h, tem  missa presidida por dom Murilo, na Conceição da Praia. Já na Boa Viagem, a missa começa às 9h. Por volta de 10h, sai a procissão terrestre, com as imagens de Nossa Senhora da Conceição da Praia e do Senhor Bom Jesus dos Navegantes até o píer da Capitania dos Portos. 
O barco fica num galpão e só saiu para o mar depois da prece de devotos (Foto: Betto Jr./CORREIO)
Mas apenas a de Bom Jesus dos Navegantes embarca e segue em procissão marítima de volta à Igreja da Boa Viagem. A imagem está prevista para chegar às 12h30, quando é recebida pela de Nossa Senhora da Boa Viagem na areia da praia. Este ano, a festa tem como tema O Olhar Fixo em Jesus: a Vocação da Família.
HistóriaA devoção a Bom Jesus dos Navegantes começou antes mesmo da galeota existir. “O governo sempre autorizava a Marinha a transportar a imagem. Mas, em 1889, houve a Proclamação da República e a separação entre a Igreja e o Estado. A Marinha, então, achou que não devia mais participar da procissão”, explica o diretor náutico da Devoção do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, Expedito Sacramento, 72, que participa da festa há 52 anos.
“Um comerciante chamado Agostinho Dias Lima emprestou seu barco, chamado Sou da Flecha, que saiu dia 1º de janeiro de 1981. Carpinteiros, calafates, pescadores se revoltaram e decidiram criar a própria embarcação. Ela foi  construída com a ajuda de várias pessoas e o trabalho durou o ano todo. Em 27 de dezembro de 1891, a galeota ficou pronta e foi para o mar”, conta Expedito. Mas não transportou a imagem do Bom Jesus. “A primeira viagem com ela foi feita em 1º de janeiro de 1892”, completa.CORREIO

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