» » » Bahia é o quarto estado com maior número de assassinatos de adolescentes no país

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou um estudo que aponta os estados com maior número de adolescentes vítimas de homicídios no Brasil. Conforme o levantamento, o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) é o mais alto desde que começou a ser medido em 2005, com marca de 3,65 adolescentes assassinados entre 12 e 18 anos para cada grupo de mil jovens.

O estudo, em parceria com o Ministério dos Direitos Humanos do Brasil, o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), engloba os 300 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes e tem como base os dados do ano de 2014 do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Segundo a pesquisa a Bahia é o estado com o quarto maior índice, com média de 7,46 adolescentes a cada 100 mil habitantes.
À frente estão os estados do Ceará, que lidera o ranking com 8,71, Alagoas tendo a segunda maior média com 8,18, e Espiríto Santo, na terceira posição com 7,79.
Em relação às regiões do país, o Nordeste apresentou o índice mais elevado, de 6,50, levando em consideração todos os seus estados. De acordo com o estudo, se as condições encontradas em 2014 se mantiverem constantes, estimamos que, ao longo dos próximos sete anos (2015 a 2021), mais de 16.500 vidas de adolescentes entre 12 e 18 anos, serão perdidas nesta região.
A Região Sul (2,32) foi a que apresentou menor IHA, seguida do Sudeste (2,77) e da Região Norte (3,29), todas com valores do índice abaixo do obtido para o conjunto dos 300 municípios analisados no país (3,65). Por outro lado, a Região Centro-Oeste obteve um IHA de 3,89 adolescentes perdidos em 2014, sendo um pouco maior do que o encontrado para o conjunto do Brasil.

Impunidade e indiferença

O relatório traz várias recomendações, como garantir a proteção das famílias dos jovens, melhorar a qualidade de vida nesses bairros, com saúde, escola e oportunidades de emprego, investigar e punir os responsáveis pelos homicídios, capacitar a polícia para fazer abordagens adequadas e reduzir a violência policial.
Isso embora, diferentemente do que acontece em outras capitais, apenas 4% das mortes de adolescentes estejam relacionadas a conflitos com policiais e outros agentes da lei. Ao mesmo tempo, há casos de grande repercussão, como o da chacina de Messejana, em novembro de 2015, em que policiais militares foram denunciados pelas mortes de 11 pessoas (sete delas com menos de 18 anos).
A vice-governadora do Ceará, Izolda Cela, afirmou à BBC Brasil que o alto número de homicídios de adolescentes era um problema já evidenciado e motivou uma mobilização envolvendo vários segmentos da sociedade. Ela cita o Pacto por Ceará Pacífico como exemplo de política pública pensada para a questão.
A vice-governadora disse que o Estado tem investido em projetos relacionados à redução de homicídios, como ocupação dos territórios, busca ativa dos jovens de 15 a 17 anos que estão fora da escola, combate à evasão escolar e compromisso de punir os responsáveis pelas mortes. Afirmou, porém, que o combate à impunidade tem de se transformar em bandeira de todo o sistema judicial brasileiro.
Ao longo da pesquisa, foram analisados 1.215 casos de homicídios de adolescentes ocorridos em Fortaleza de 2011 a 2016. Só em 2,8% dos casos houve condenação dos responsáveis em primeira instância.
A equipe que percorreu os bairros de Fortaleza para localizar as famílias dos jovens assassinados também relata outra reação comum à pergunta sobre se haviam sido procurados por alguém do serviço público. "Muitas vezes ouvimos: vocês são os primeiros que aparecem aqui. Só houve indiferença", contou o educador Joaquim Araújo.
Para essas famílias, o sentimento de perda e saudade se misturou com o de revolta pela dor de crimes sem punição. A mãe do rapaz morto por causa de um drible no futebol disse à BBC Brasil, por exemplo, que o filho não tinha envolvimento com o crime.
"Ele não gostava de estudar, admito. Mas não fazia mal a ninguém." Depois da morte do filho, ela entrou em depressão. Evangélica e atleta, afastou-se de Deus e do caratê. Voltou há pouco tempo, quando retomou também o trabalho na confecção de roupas esportivas.
Diz ainda se lembrar dos tiros na rua, da gritaria, do rosto desfigurado do rapaz. Fez as pazes com a religião e está criando um neto, filho do filho assassinado. A saudade é companheira de todo dia: "Quando rezo pergunto a Deus qual o sentido de ter perdido meu filho".

«
Anterior
Postagem mais recente
»
Anterior
Postagem mais antiga