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Foi na região agreste do Rio Grande do Norte, em meados do século 17, que homens, mulheres e crianças foram assassinados por holandeses calvinistas nos massacres de Cunhaú e Uruaçu.

Neste domingo (15), o papa Francisco declarará santos os beatos Ambrósio Francisco Ferro, André de Soveral, Mateus Moreira e seus 27 companheiros mortos em dois ataques, em julho e em outubro em 1645, que aconteceram nas atuais cidades de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal.
Naquela época, os holandeses invadiram o Nordeste do Brasil pois tinham interesse nos engenhos de cana-de-açúcar da região. Além do objetivo econômico, entretanto, os invasores tentavam impor a religião calvinista por onde passavam e não toleravam a fé católica.
A tropa, liderada pelo alemão Jacob Rabbi e formada por soldados e índios, atacou o engenho de Cunhaú, em Canguaretama, na manhã de um domingo, quando a maioria dos fiéis estava dentro da Capela de Nossa Senhora das Candeias.
Três meses depois, ocorreu outro ataque, em Uruaçú, São Gonçalo do Amarante, também na zona que viria a ser chamada de Grande Natal. Ao todo, 80 pessoas foram mortas.
As vítimas tiveram as línguas arrancadas para jamais fazer suas orações católicas. Além disso, tiveram braços e pernas decepados. Crianças foram partidas ao meio e degoladas. O padre Ambrósio Francisco Ferro foi torturado, e o camponês Mateus Moreira teve o coração arrancado. Ainda vivo, ele exclamou “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”, conta a história.
Por sua vez, de acordo com a tradição, o padre André de Soveral ainda segurava o cálice da consagração da hóstia quando foi morto.
A história dos massacres também é contada no livro “Beato Mateus Moreira e seus Companheiros Mártires”, do monsenhor Francisco de Assis Pereira. Nele, o autor relata que todos foram assassinados porque os holandeses não aceitavam a prática do catolicismo nas áreas por eles dominadas.
Além de Moreira, os 27 canonizados são: Antônio Vilela Cid, Antonio Vilela e sua filha (identificada apenas como uma criança do sexo feminino), Estêvão Machado de Miranda e duas filhas (também não identificadas, mas uma delas tinha apenas alguns meses de vida), Manoel Rodrigues de Moura e sua esposa (também não identificada), João Lostau Navarro, José do Porto, Francisco de Bastos, Diogo Pereira, Vicente de Souza Pereira, Francisco Mendes Pereira, João da Silveira, Simão Correia, João Martins e seus sete companheiros (identificados apenas como um grupo de jovens que se recusaram a lutar pela Holanda contra Portugal), a filha de Francisco Dias – que não está entre as vítimas, mas é provável que ele tenha morrido junto à pequena -, Antônio Baracho e Domingos de Carvalho. As causas das mortes dos mártires foram diversas, sendo que alguns foram assassinados por espadas, outros, por espancamento e mutilações, e alguns acabaram queimados vivos. No dia 16 de junho de 1989, em reconhecimento aos mártires brasileiros, a Santa Sé iniciou o processo de beatificação. Em 21 de dezembro de 1998, o papa João Paulo II assinou o decreto oficializando o martírio do grupo.
A beatificação ocorreu na praça São Pedro, no Vaticano, no dia 5 de março de 2000, e foi conduzida pelo próprio Karol Wojtyla. No local dos massacres, foi erguido o “Monumento aos Mártires”, inaugurado no dia 5 de dezembro de 2000, com capacidade para receber 20 mil peregrinos.
Projetado pelo arquiteto Francisco Soares Junior, o espaço costuma receber centenas de fiéis durante outubro. Desde 2006, o dia 3 desse mês é feriado estadual no Rio Grande do Norte. A cerimônia de canonização será transmitida ao vivo neste domingo (15), diretamente do Vaticano, às 5h (horário de Brasília).
No entanto, em São Gonçalo do Amarante, a celebração começa neste sábado (14), com uma vigília em homenagem aos mártires, que terá início às 19h e terminará somente no domingo, quando acabar o evento no Vaticano.
“A canonização será um momento de grande alegria”, disse o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, em entrevista à “Rádio Vaticano”. No mesmo dia, o papa Francisco também elevará a santos os beatos Cristoforo, Antonio e Giovanni, três indígenas mexicanos que viveram no século 16; o padre espanhol Faustino Míguez (1831-1925); e o italiano Angelo d’Acri (1669-1739)

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