» » » Ilê Axé Opô Afonjá denuncia ao MP mais um ataque a Mãe Stella de Oxóssi

Ofensa foi feita nas redes sociais após nome de ialorixá batizar avenida em Stella Maris.
Ofensa foi feita nas redes sociais após nome de ialorixá batizar avenida em Stella Maris.
(Foto: Betto Jr/CORREIO)
A ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, uma das maiores representantes do Candomblé no país e que morreu há uma semana, foi alvo de injúria racial nas redes sociais. A agressão foi publicada por uma mulher identificada como Taiane Fragoso, na página do prefeito de Salvador, ACM Neto, no Instagram, após post do gestor sobre a inauguração da Avenida Mãe Stella de Oxóssi, na manhã dessa quarta-feira (4).
No comentário, publicado por Taiane com o próprio perfil, a agressora chama a homenagem de "absurdo" e ofende Mãe Stella. 
"Absurdo colocar o nome de uma avenida o nome dessa macumbeira (sic). Em vez de procurar a Deus, vai procurar fazer macumba para o mal dos outros", afirmou. 
Em contato com o CORREIO, o ogã Ribamar Daniel, do Ilê Axé Opô Afonjá, responsável pela solicitação da representação ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), disse que a mulher é uma professora da rede privada da capital. A publicação chegou ao conhecimento do terreiro após contato de um pai de santo, que teve acesso ao post.
Em contato com a assessoria de imprensa do colégio citado na representação do terreiro, a reportagem foi informada de que se trata de outra instituição, também privada. Na página da mulher no Instagram, de onde ela fez o comentário ofensivo, não é possível enviar mensagem - já que o perfil, que é privado, permite que apenas seguidores entrem em contato. 
Taiane ofendeu Mãe Stella em publicação no Instagram (Foto: Reprodução)
Representação
No perfil do Facebook, Taiane afirma que já trabalhou no Colégio Mendel de Vilas do Atlântico e que é formada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). O CORREIO tentou contato, mas a mulher não respondeu as mensagens. 

A representação (veja PDF abaixo), endereçada à promotora de Justiça Lívia Vaz, coordenadora Grupo de Atuação Especial de Defesa da Mulher e da População LGBT, representantes do Ilê Axé Opô Afonjá denunciam a agressão e, em texto de três páginas, lembram que "a discriminação religiosa é crime no Brasil, constitucionalmente um Estado Laico, desde 27 de dezembro de 2007" e, ainda, que no dia 21 de janeiro é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
A reportagem também procurou a assessoria de comunicação do MP-BA e a promotora Lívia Vaz, mas não conseguiu contato. O documento, assinado pelo próprio Ribamar, solicita que o MP-BA "proceda com as medidas cabíveis" contra o ataque à mãe de santo, que morreu aos 93 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, na tarde do dia 27 de dezembro, no município de Nazaré das Farinhas, no Recôncavo. 
Ódio
O ogã Rimbar Daniel disse que leu com tristeza o comentário de Taiane Fragoso e que o desejo da comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá é de que a mulher se retrate. "Procurei o Ministério Público logo que tive acesso aos prints na página do prefeito. Porque é algo muito sério, especialmente em se tratanto de uma personalidade como nossa Stella", comentou.

O modo como a agressora se refere à mãe de santo, segundo Daniel, age como um "acelerador de raiva e serve apenas para criar e disseminar o ódio entre as pessoas. Nós vivemos um momento tão triste e de dificuldade para fazer o enterro, precisamos acionar a Justiça, o que foi péssimo. E agora isso". Ribamar Daniel comentou que falou diretamente com Lívia Vaz, que, segundo ele, está responsável pela apuração do caso. 
"O Brasil é um país laico, todos nós temos o direito de expressar e viver nossa religião. Nos sentimos ofendidos mais uma vez, não podemos e não vamos aceitar isso de jeito nenhum", acrescentou o ogã. 
Em perfil privado, Taiane não permite mensagens de não seguidores (Foto: Reprodução)
"Somos de uma religião espiritualizada, aceitamos a morte, mas a ausência fisica dela nos faz muito tristes, ela faz muita falta", lamentou o ogã. 
Durante coletiva de imprensa realizada no Festival Virada Salvador, onde se apresentou na segunda-feira (31), o cantor Márcio Victor, líder do Psirico, comentou a morte da ialorixá e falou sobre intolerância religiosa:
"O Candomblé é uma religião muito bem resolvida, de gente unida. Se for o caso, sentamos na mesa e divide o mesmo bife. Vou guardar Mãe Stella em vida, sempre. Pessoas que criticam, reclamam, falam dos nossos costumes, elas não são felizes. O Candomblé é o meu motivo de ser feliz", disse Victor, que cantou Firme e Forte em homenagem à mãe de santo. 
Para o ogã Rimabar Daniel, Mãe Stella merece ser lembrada como um símbolo de afeto, respeito e luta contra a desigualdade. 
correio24horas

«
Anterior
Postagem mais recente
»
Anterior
Postagem mais antiga