» » Ator Flávio Migliaccio deixou carta antes de morrer: "A humanidade não deu certo"

Polícia encontra carta de despedida em casa onde ator Flávio Migliaccio morreu: "A humanidade não deu certo; cuidem das crianças". Texto é um sinal dos tempos em que vivemos.
Foto:Reprodução
O ator Flávio Migliaccio foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira (4) pelo caseiro do sítio onde morava em Rio Bonito (RJ). Ele tinha 85 anos e era natural de São Paulo, onde nasceu no bairro do Brás, em 26 de agosto de 1934.

A morte de Migliaccio foi confirmada pelo 35º Batalhão de Polícia Militar. O boletim de ocorrência foi registrado como suicídio.
A polícia encontrou no local uma carta de despedida escrita pelo ator. No texto, ele lamenta a situação do país. “Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é o caos, como tudo aqui. A humanidade não deu certo”, escreve o ator.
Na carta, o ator diz ainda que teve “a impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este e com esse tipo de gente que acabei encontrando”. “Cuidem das crianças de hoje”, finaliza Migliaccio na carta.

História

Migliaccio participou de mais de 30 novelas e minisséries e fez sucesso com vários personagens, como o pão-duro Moreiras, em “Rainha da Sucata” (1990), o feirante Vitinho, em “A Próxima Vítima” (1995), Fortunato, em “Passione” (2010), e o turco Chalita, da série “Tapas & Beijos” (2011).
Ele também atuou em sucessos da TV Globo como “Êta Mundo Bom!” (2016), “Caminho das Índias” (2009) e “América” (2005). O último trabalho do ator foi na novela “Órfãos da Terra”, da TV Globo, em 2019, quando interpretou o personagem Mamede Al Aud.
Além de ator, ele atuou como diretor, produtor, roteirista e cartunista. Filho de um barbeiro que tocava violino, cresceu acostumado a atuar e a tocar instrumentos improvisados com os irmãos — eram 16, ao todo — nos concertos noturnos que o pai fazia para os vizinhos.
“Sempre vivemos nesse clima da arte de representar, de tocar. Meu pai queria que eu fosse barbeiro, até tentou me ensinar a profissão. Ele reunia todos os mendigos da nossa rua e fazia aquela fila, para eu cortar o cabelo e fazer a barba deles. Eram minhas cobaias. Mas acabei não aprendendo, eu queria mesmo era ser artista”, contou o ator.
(continua após as imagens)

Início de carreira

Migliaccio começou a estudar teatro em 1954, no curso do italiano Ruggero Jacobbi, que o encaminhou para o grupo amador Teatro Paulista do Estudante. Foi lá que ele conheceu Oduvaldo Vianna Filho e Gianfrancesco Guarnieri.
A profissionalização como ator teve início no Teatro de Arena, de Zé Renato, onde ele participou de uma série de peças e para onde levou, inclusive, a irmã Dirce Migliaccio. Os dois atuaram em dezenas de montagens juntos.
No Teatro de Arena, ele atuou em montagens de peças como “A Revolução na América do Sul”, de Augusto Boal, “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, e “Chapetuba Futebol Clube”, de Oduvaldo Vianna Filho.
Nas décadas de 1950 e 1960, fez pequenas pontas na TV Tupi e atuou em dois longas-metragens de Roberto Santos – “O Grande Momento” (1958) e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (1965). Em 1962, participou de “Cinco Vezes Favela”, atuando em um episódio e escrevendo o roteiro de outro, com Leon Hirszman. No ano seguinte, estreou como roteirista e diretor em “Os Mendigos”.
Migliaccio começou na TV Globo em 1972, quando ficou conhecido pelo papel de Xerife, na novela “O Primeiro Amor”. O personagem fez tanto sucesso que, no mesmo ano, deu origem ao seriado “Shazan, Xerife e Companhia”, estrelado também por Paulo José.
O ator também fez sucesso com o público infantil, quando apostou no personagem “tio Maneco”. O filme “Aventuras com Tio Maneco” foi vendido para mais de 30 países e ganhou um prêmio do cinema infantil na Espanha.
Foi com Tio Vitinho, de “A Próxima Vítima”, que Migliaccio disse ter vivido seu personagem preferido. “Foi o que mais combinou comigo. Eu bolei uma coisa que considero uma das maiores criações que tive como ator, e colaborei com o texto assim: bolei que ele vivia com o travesseiro e a roupa de capa embaixo do braço, porque não tinha lugar para dormir. Comecei a desenvolver isso, a fazer uma cena dramática segurando o travesseiro; ficava engraçado.”
pragmatismopolitico

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