» » Com avanço do desmatamento, animais perdem até 90% do habitat

Estudo da WWF-Brasil sobrepôs mapas do avanço de pastagens e plantio de soja com os das áreas de ocorrência de 486 espécies ameaçadas que vivem nos dois biomas.
Foto: Adriano Gambarini/WWF-Brasil

São muitas as espécies de plantas e animais da Amazônia com potencial farmacológico - ou seja, que podem ser usadas para fazer novos medicamentos ou cosméticos. As espécies de sapos da família Dendrobatidae, por exemplo, têm sabidamente peles ricas em moléculas que podem ser aproveitadas para o desenvolvimento de remédios como analgésicos.

O avanço do desmatamento, contudo, pode eliminar esses e outros animais e vegetais do planeta antes que os benefícios possam ser explorados. No caso específico dos sapos da família Dendrobatidae, uma de suas espécies, a rã flecha (Hyloxalus chlorocraspedus), já perdeu 68% de sua área de ocorrência. Ela é encontrada apenas no município de Porto Walter, no oeste do Acre, região em que a floresta nativa vem perdendo espaço. A espécie é uma das 486 avaliadas por um estudo recente do WWF-Brasil e passado com exclusividade à BBC News Brasil.

Realizado pela consultoria Gondwana e financiado pela União Europeia no âmbito do projeto Eat4Change, o levantamento cruzou os mapas do desmatamento da Amazônia e do Cerrado até 2019 com os mapas de ocorrência de espécies ameaçadas ou que vivem em áreas restritas para entender como a perda da vegetação nativa afeta essa biodiversidade.

Do total, quase todas (484 de 486) perderam parte de seu habitat. Algumas viram suas áreas de ocorrência encolher em mais de 90%, como é o caso da perereca Dendropsophus rhea (93,1%), endêmica do Cerrado, e da serpente Typhlonectes cunhai (93,6%), endêmica da Amazônia.
Os anfíbios foram os mais afetados: a área de distribuição das 107 espécies analisadas reduziu em 43%. Para lagartos e serpentes, o percentual foi de 29%; mamíferos, 27%; e aves, 26%.
Símbolo do Cerrado, o lobo guará (Chrysocyon brachyurus) já perdeu mais da metade do território.

A cuíca (Gracilinanus microtarsus), um marsupial com grande potencial socioeconômico para a agricultura por ser um voraz predador de insetos, reduziu sua distribuição no bioma em cerca de 67% — nível próximo do observado (68%) para o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), ave criticamente ameaçada que usa o bico fino para pescar e é conhecida por só habitar áreas com rios límpidos e cristalinos.

Animais que vivem entre os dois biomas, como o chororó-de-goiás (Cercomacra ferdinandi), foram especialmente afetados. Esse é um pássaro que encontrado na bacia do rio Araguaia, com uma área de ocorrência significativa - 107,5 mil km² no Cerrado e 49,7 mil km² na Amazônia -, mas que não foi suficiente para que ele fosse protegido.
De acordo com o estudo, a alteração dos ciclos de inundação do rio Araguaia por barragens e a substituição da vegetação nativa por pasto fizeram desaparecer 74% de sua área de ocorrência na Amazônia e 35% no Cerrado.

A análise apontou que, em ambos os biomas, a vegetação nativa vem dando lugar principalmente a pastagens e plantações de soja. Dados MapBiomas até 2019 apontaram que essas atividades ocupavam 40,9% da área original do Cerrado (33,8% pasto; 7,1% soja), e 14,6% da Amazônia (13,8% pasto; 0,8% soja).

Fonte: BBC News Brasil


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