» » Morre, aos 72 anos, a famosa cozinheira Alaíde do Feijão

Alaíde morreu nesta segunda-feira (31), após testar positivo para Covid-19 pela segunda vez.

A cozinheira Alaíde Conceição, dona do restaurante que leva seu nome, no Centro Histórico de Salvador, morreu nesta segunda-feira (31/01). Ela tinha 72 anos.

Foto:Reprodução

Em conversa por telefone com o Informe Baiano, uma das netas de Alaíde, Tamires, confirmou a Informação.

A baiana havia sido contaminada com Covid há quase um ano e se conseguiu vencer o vírus. Há alguns dias, foi infectada novamente. Já no hospital teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. Alaíde deixa 3 filhas, 7 netas(os) e 6 bisnetos(as).

Nota da Família Conceição

Alaíde do Feijão, nasceu em 1948, no bairro do Comércio, aprendeu cedo a ajudar a mãe a fazer e vender feijoada na Praça Cayru, em frente ao Elevador Lacerda. Era de lá que dona Maria das Neves tirava o sustento da família e fidelizava uma clientela formada por todo tipo de gente que circulava pelas ruas do Centro Histórico.

Nos anos 80, ela se aposentou e passou o tabuleiro para a filha, Alaíde da Conceição, que ficou conhecida por sua especialidade, Alaide do Feijão, ela assumiu o tabuleiro, ficou fazendo a comida e criando a família. Entre as responsabilidades de Chefa de família e os dias de labuta no tabuleiro, Alaíde foi conquistando uma clientela cada vez mais vasta, entre famosos e anônimos, especialmente presidentes e integrantes dos blocos de samba e blocos afro de Salvador, políticos, artistas, sambistas, jornalistas e etc…

Com a revitalização do Centro Histórico, nos anos 90, ela conseguiu com a articulação de grandes amigxs, deixar o tabuleiro e mudar-se para o Pelourinho, onde abriu um espaço para vender suas comidas. Mãe solo de 3 filhas, avó de 7 netas(os), e bisavó de 6 bisnetos(as), Alaíde traz na sua geração um time de maioria mulheres, e deixa um ensinamento gigantesco para as próximas gerações. Uma mulher retada, dona de uma força incrível, uma mulher preta militante, antirracista, que teve um papel importantíssimo no movimento social e na luta antirracista. Alaíde era aquela que discutia todas as decisões dos blocos de samba, dos blocos afro de Salvador, ela sentava com os presidentes e discutia todas as decisões futuras.

Nas eleições era a mesma coisa com os políticos. Alaíde participava das campanhas e dava as orientações e conselhos aos candidatos(as), vereadores, deputados(as), ela sabia de tudo que acontecia nos bastidores…

Alaíde realizou mais de 10 edições da Quintanda do Saber, um evento cultural e culinário em Salvador, marcado por sua feijoada e realizado sempre no mês de março em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Já recebeu vários prêmios, homenagens, visitas de políticos, sambistas, artistas, diversas pessoas públicas em seu restaurante, inclusive a marcante presença dos Exs Presidentes do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O restaurante de Alaíde do Feijão é muito além do que comercializar comidas, é um ponto cultural na Bahia, de encontro da negritude, um espaço de aquilombamento, de afeto e acolhimento. Era ali que ela passava a maioria do seu tempo, acordava cedo todos os dias e ia pra feira providenciar comprar os ingredientes. Sempre tomou a frente das demandas do restaurante e resolvia tudo, sentada na sua cadeira ela tomava seu café, observava tudo, e quem passava entrava para tomar a benção. Alaíde era do Candomblé, do Terreiro Tumbacê, feita há mais de 20 anos pela Saudosa Yalorixá Carmélia, quem a regia era o orixá Obaluaê, ele que é dono da terra, da cura, da doença e da morte, e agora vai receber ela no Orun.

Alaíde do Feijão lutou com muita bravura, resistiu até o último momento, mas infelizmente por sequelas da Covid não resistiu a uma parada cardiorrespiratória e nos deixou. Ela deixa um legado incrível, potente, de muita luta e resistência, um marco histórico que se permanecerá vivo dentro de todxs nós! Alaide do feijão, Presente! Alaíde do Feijão, Vive!

Família Conceição

Fonte:Informe Baiano

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