» » Paulista é preso injustamente por crime cometido em Itabuna sem nunca ter pisado na Bahia; pena era de 12 anos

O paulista Rogerio de Paula, 47, viveu momentos de pânico desde dezembro de 2021, quando foi preso e condenado a 12 anos de prisão sem ter cometido crime.

Creditos da foto:arquivo pessoal/Defensoria Pública da Bahia
Os dados dele foram usados por um criminoso em Ilhéus, no sul da Bahia, ao dar entrada no presídio - e quando o acusado fugiu da prisão e se tornou foragido, o verdadeiro Rogério acabou se tornando o fugitivo.

“Eu estava chegando do serviço e fui parado pela ROTA, que pediu meus documentos e me falou que eu estava sendo procurado por um delito que tinha cometido lá na Bahia. E eu nunca tinha ido à Bahia”, conta Rogerio. Ele foi solto nesta nesta quinta-feira (17/3), após a Defensoria Pública da Bahia (DPE/BA) ter comprovado em juízo que a prisão foi equivocada.

O inocente foi preso no dia 13 de dezembro, no dia seguinte passou pela audiência de custódia e foi transferido para o Centro Provisório de Detenção de Santo André, somado 95 dias preso injustamente. Segundo a Defensoria, a história que levaria Rogerio à prisão teve início em 2001, quando uma pessoa foi presa em flagrante por roubos na cidade de Itabuna e se apresentou com uma identidade falsa contendo seus dados pessoais no Presídio Regional Ariston Cardoso, em Ilhéus. 

Um mês após a prisão, o acusado fugiu, mas o processo seguiu o fluxo normal e resultou numa sentença de 12 anos de reclusão. Passados 20 anos do ocorrido, o verdadeiro Rogerio foi preso em São Paulo para cumprir a sentença do crime que não cometeu. “Quando a família nos procurou, eles achavam que se tratava de homônimos (pessoas que possuem o mesmo nome), mas quando vi o caso percebi que se tratava da documentação dele”, conta a defensora pública Priscilla Renaldy, que atua no caso. 

COMPARAÇÃO 

Ao perceber o problema, Priscila passou a adotar as ações que poderiam ajudar a Rogério,. “Eu requisitei do Presídio Regional Ariston Cardoso o prontuário da prisão ocorrida em 2001 e, quando recebi o documento que continha foto da pessoa detida naquele ano, percebi que ela era muito diferente das fotos enviadas pela família”, relata a defensora pública. 

Ela conseguiu, com a Secretaria de Segurança de Pública de São Paulo, o documento verdadeiro e passou a compará-los. É aí que entra o trabalho de Ricardo Caires, especialista em perícia criminal e audiovisual que, sensibilizado pela causa, aceitou emitir os laudos gratuitamente. “Na primeira análise, antes de decidir se eu iria atuar ou não, as inconsistências nos documentos demonstravam que existia algo errado”, conta o perito.

Seu trabalho envolveu a análise grafotécnica (verificação da autenticidade da escrita) e comparação facial das fotos presentes nos documentos oficiais obtidos pela Defensoria Pública. Ambos os lados atestaram que a pessoa detida em 2001 não se tratava de Rogério.

“Tivemos a preocupação de pegar documentos de antes e depois do fato ocorrido e analisar pontos que não poderiam ser mudados, como o dorso nasal, formato do bigode, cor e formato dos olhos, características genéticas que individualizam as pessoas. A comparação facial demonstrou, com riqueza de elementos, que são pessoas distintas. A mesma conclusão foi obtida a partir do exame grafotécnico”, explica Caires.

 

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DECISÃO

Com os laudos, a Defensoria baiana conseguiu que fosse declarada a nulidade da execução penal e expedição imediata de alvará de soltura. Os pedidos foram deferidos na sentença proferida nesta terça-feira, 15, em que o juiz da Vara de Execuções Penais de Itabuna reconhece que “há provas suficientes, até o momento, para obstar a prisão ilegal”.

O juiz determinou ainda que fossem realizadas diligências à delegacia de Itabuna para verificar a existência de alguma identificação criminal da época da prisão, para comparar e provar que as pessoas que foram detidas em 2001 e 2021 são distintas.

Já em liberdade, junto a família, Rogério só pensa em recuperar o tempo de convívio que lhes foi tirado. “Foi um período muito sofrido, horrível. Eu nunca imaginei que pudesse passar por aquilo. E eu sofria mais por saber que era inocente. Quando eu saí, minha filha me levou para comer um pastel e foi a melhor coisa que eu comi na minha vida”, conta.

Agora a Defensoria vai ajuizar pedido de revisão criminal e pedido de indenização. “Assim vamos garantir a nulidade da sentença que foi proferida erroneamente em nome do Rogério. O reconhecimento do erro judiciário também vai possibilitar o pedido de indenização devida por conta da prisão ilegal que se prolongou pelo período de três meses”, explica a defensora. 

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