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As primeiras vezes que eu fiquei com mulheres foram mágicas, foi leve e divertido. Essas relações fizeram com que eu me enxergasse de outro jeito, eu gosto de quem eu sou quando eu estou entre mulheres, especialmente entre mulheres queers.
Alguns meses depois do início do meu namoro com Kity, minha primeira namorada, fui surpreendida com uma matéria de um jornal expondo fotos nossas e dizendo que eu era “bissexual”. Foi tudo muito difícil, mas firmei bem os pés no chão e peitei um mundo muito mais despreparado pra lidar com isso do que o de hoje. Mas eu tava tão feliz comigo mesma, que nada me abalava.
Com o passar do tempo, fui olhar de novo pra aquela matéria de jornal. Talvez o que foi mais duro nela não foi expor minha relação e a pessoa que estava comigo, foi me definir como “bissexual”. Por que bissexual? Por que eu fui casada com um homem cis antes de começar a namorar mulheres? Até hoje, muitas pessoas se confundem dizendo que sou bi ou panssexual, só porque eu já me relacionei com homens.Quando alguém pensa assim não leva em conta algo muito violento que existe na nossa sociedade chamado “Heterossexualidade Compulsória”. Esse termo, cunhado nos anos 80 por Adrienne Rich ‚ filósofa e teórica queer — fala sobre como somos levados a sermos heterossexuais sem nunca nos perguntarmos se é isso mesmo que a gente quer, que a gente gosta, que a gente é. Aquela coisa que você faz na vida só porque tá todo mundo fazendo.
E se todo mundo faz, e se nos livros, filmes, propagandas e novelas também só tem casais hétero, como é possível existir outra coisa? E mesmo se você entende que existe, você se depara com tanto terror e medo que constroem em cima dessas sexualidades dissidentes... “Você vai ser expulso de casa, vai sofrer, vai perder o emprego, vai sofrer estupro corretivo, vai apanhar na rua.”
E por conta disso, muita gente se casa em casamentos heterossexuais, têm filhos e segue todo esse roteiro normativo sem nunca conseguir olhar pro seu próprio desejo, escutá-lo e ter coragem de vivê-lo caso ele seja dissidente dessa norma.
Tinha outra coisa que eu pensava também. Quando meu irmão, um homem cis, se separa de um casamento heterossexual de 11 anos pra ficar com um homem, ninguém disse que ele era bi. Pareceu claro muito rapidamente pra todo mundo que ele era gay. Por que eu era bi e ele era gay? Será que a nossa sociedade valoriza e reconhece muito mais as relações que têm falos? Nessa lógica equivocada, dois homens cis sempre seriam gays e duas mulheres sempre seriam bi... Complicado, né?