» » » » Nem todo paciente com câncer de próstata precisa ser operado

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Um dos temas de grande relevância que serão discutidos no V Simpósio de Uro-Oncologia da Bahia nesta sexta (14) e sábado (15) será a vigilância ativa, monitoramento de pacientes diagnosticados com câncer de próstata localizado de baixo risco e pouco volume que, enquanto permanecem estáveis, não precisam, necessariamente, passar por cirurgia, radioterapia ou qualquer tipo de procedimento invasivo. Apesar de não ser tão recente, esta possibilidade terapêutica ainda é desconhecida por muita gente e nem todo urologista apresenta esta possibilidade como alternativa para seu paciente. Para mudar esta realidade, o assunto integra a programação científica do encontro promovido pela Sociedade Brasileira de Urologia seccional Bahia (SBU-BA) e pelo Grupo de Uro-Oncologia da Bahia (GRUOBA), com apoio da Associação Bahiana de Medicina (ABM) no Hotel Mercure Rio Vermelho. 


De acordo com o urologista Augusto Modesto, coordenador científico da SBU-BA, na vigilância ativa, apenas se houver progressão do tumor, o paciente é retirado do protocolo e encaminhado para tratamentos convencionais. O maior benefício do tratamento é a promoção da qualidade de vida através da prevenção de morbidades frequentemente associadas ao tratamento do câncer de próstata. “Cerca de 30 a 40% dos pacientes que se submetem à cirurgia ou à radioterapia para tratamento de câncer de próstata apresentam disfunção erétil (impotência sexual). Entre 5 e 15% passam a apresentar algum grau de incontinência urinária. Sobretudo para pacientes de meia idade, tornar-se impotente ou ter que usar fraldas descartáveis não só abalam seu bem estar, como também pode ser constrangedor. Se podemos evitar ou adiar esses problemas através da vigilância ativa, por que não fazer?”, declarou o médico que, desde 2015, acompanha pacientes que optam por essa estratégia.


A vigilância ativa, bastante difundida mundialmente em tumores de próstata de baixo risco, é “gold standard” na Europa e nos Estados Unidos. Estudos internacionais mostram que atualmente a estratégia é utilizada em 40% dos casos da doença no mundo. Os critérios para entrar no protocolo são classificados com base nos exames de toque retal, PSA, e, principalmente, na biópsia da próstata, de preferência guiada por fusão de imagens da ressonância multiparamétrica. No Brasil, a demanda pela vigilância ativa é crescente, mas por uma questão cultural e/ou comercial, ainda há muitos que preferem partir logo para uma cirurgia. 


Cerca de 30% dos pacientes que entram no protocolo saem dele em até cinco anos e aproximadamente 50% não precisam ser tratados ao longo de 15 anos. “Garantir o tempo de sobrevida com qualidade antes da cirurgia tem sido uma opção elogiada pela maioria dos meus pacientes que optou pela vigilância. Nos homens que precisam sair do monitoramento para iniciar o tratamento porque houve uma mudança no padrão de tumor, a chance de cura permanece a mesma”, completou Augusto Modesto.


Ainda segundo o urologista, para ser classificado como apto a entrar em vigilância ativa, o paciente tem que ter notas baixas na chamada escala de Gleason, baixo valor de PSA e a doença tem que estar limitada à glândula prostática de pequeno volume. “Outro ponto importante é o perfil psicológico do paciente: ele sabe que tem câncer, mas deve permanecer tranquilo em se manter na vigilância”, detalhou. O monitoramento é feito com toque retal e dosagem de PSA a cada 3 a 6 meses, biópsia anual e ressonância magnética. “A vigilância ativa é uma estratégia sofisticada e amparada por exames que, cada vez mais, aumentam a precisão do diagnóstico dos tumores biologicamente indolentes”, concluiu Augusto Modesto. 


Além desse tema, a programação científica do V Simpósio de Uro-Oncologia da Bahia inclui atualizações, debates e apresentações de casos clínicos relacionados aos diversos tipos de câncer urológicos, tais como câncer de próstata, bexiga e rim. A maioria das discussões será conduzida na modalidade de tumor board, em que cada especialista participante das mesas temáticas emitirá sua opinião técnica sobre como conduzir os casos clínicos apresentados.

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