» » » » Com direito a "funerAU", cemitério de animais em Salvador tem "rabecão" e 45 mil corpos enterrados

                                                                   Créditos da foto: Lucas Pereira/Aratu On
Cães, gatos, aves e cágados podem ser enterrados no local. As taxas variam conforme o peso do animal, mas, para até 10 kg, o valor do serviço é de R$ 230.


Sempre que o coveiro desce com o corpo nas mãos, lágrimas caem. As expressões faciais dos entes demonstram que, ali, uma coisa ruim aconteceu. Até a última pá de terra e cal, o silêncio é tomado pelo canto dos pássaros, que parecem perceber o que está acontecendo. As características são de um enterro comum, de uma pessoa mesmo, mas há um detalhe: toda a cerimônia é feita para pets. 

Quem tem ou já teve algum animal de estimação sabe que os bichinhos são verdadeiros companheiros de uma vida. Ao longo dos anos, lá estão eles, sempre fiéis e atenciosos. Mas quando a dolorosa hora de partir chega, o que fazer com esse ente tão querido? Há algum cemitério ou serviço público para enterrar os pets? 

Nesta véspera de Dia dos Finados, a reportagem do Aratu On mostra que a resposta é sim, existe UM cemitério aqui em Salvador que cuida do enterro dos animais domésticos da capital e Região Metropolitana. Localizado no bairro de Campinas de Pirajá, o Cemitério Jair dos Animais há mais de 13 anos recebe famílias enlutadas.

Idealizado e comandado por Jair Bonfim, o local realiza, em média, entre 10 e 18 sepultamentos por dia. Segundo o proprietário, mais de 45 mil animais já foram enterrados. 

“Tudo aconteceu há 13 anos, quando eu senti a necessidade fazer o sepultamento de um pet. Eu tive uma dificuldade muito grande e aí, tendo esse espaço grande, eu coloquei o primeiro animal sepultado aqui e foi meu”, conta.

Cães, gatos, aves e cágados podem ser enterrados no local. As taxas variam conforme o peso do animal, mas, para até 10 kg, o valor do serviço é de R$ 230, com direito ao transporte.

Na prática, existem dois "rabecões", uma motocicleta e uma caminhonete para buscar o corpo do bichinho. Todo ano, é cobrada uma taxa de R$ 170 para a manutenção do túmulo. Caso o proprietário não deseje renovar o serviço, a ossada dos pets é retirada e enterrada em uma cova coletiva.

No preparo para a despedida, os animais recebem uma camada de produtos químicos e são enrolados em folhas de Tnt, um tecido popularmente conhecido como cami. Com a presença da família, o bichinho é levado e colocado em uma das covas do local, onde é enterrado e recebe uma cruz com seu nome, além das datas de nascimento e morte.

Há, também, a possibilidade de se colocar lápides, fotos ou outros adereços no túmulo do pet - as mais variadas decorações podem ser encontradas ao longo do cemitério.


Túmulos de Luck e Nicole


Túmulo de Amarelo


Túmulo do trio Negão, Linda e Cat

Jair conta que já houve enterros em que mais de 10 pessoas acompanharam a despedida de um pet. Dos casos curiosos ao longo de mais de uma década de funcionamento, ele contou o de uma senhora, que mantinha visitas bem regulares ao túmulo de seu gato.

“A [história] mais curiosa foi uma senhora, professora do Salesiano. Ela vinha para cá e ficava dois, três dias, sentada, ao lado do túmulo do gatinho dela. Era coisa assim de final de semana. Ela sentava e a gente ficava à disposição, tomando conta dela, já que poderia ter algum problema de saúde".


"Jair dos Animais" 

NOMES CURIOSOS

Dos animais enterrados, fica apenas a lembrança dos entes queridos e as identificações que não deixam que eles sejam esquecidos. Inclusive, no meio de scoobys, totós, garfields, encontramos alguns pets de nomes bem curiosos, como Ciro Gomes Júnior e Thor Aragão.


Ciro Gomes Júnior


Ralf Luiz, Alegria, John Leno


Zé Larica

O momento da despedida é sempre doloroso e de extrema emoção. Ao longo da reportagem, presenciamos alguns sepultamentos realizados. Uma das famílias comentou sobre a importância de ter um lugar adequado para seus bichinhos descansarem em paz. 

“É um momento difícil, mas espero que ele descanse em paz”, diz Celina Ferreira, dona do Maicon, cachorro enterrado no dia da nossa matéria e que morreu de velhice, com seus 20 anos.

Como os órgãos públicos não fornecem um serviço parecido para os animais mortos, diversas pessoas acabam descartando os bichos de maneira inapropriada, no lixo comum ou mesmo enterrando em locais indevidos.

De acordo com a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), o descarte dos cadáveres de animas, de pequeno ou grande porte, em vias públicas pode atrair vetores de doenças, como ratos, baratas e urubus. Além disso, o enterro em locais inapropriados pode causar a contaminação do solo e de lençóis freáticos através do necrochorume, além do odor característico ocasionado pela decomposição do corpo desses animais.

Assim, o órgão recomenda que "após a morte dos seus pets, os tutores procurem locais apropriados voltados ao descarte ambientalmente adequado, como clínicas veterinárias autorizadas, nas quais podem ser cremados ou incinerados, o que se traduz em um ato de respeito com o próprio animal e com o meio ambiente, pois a cinza não oferece riscos ao ecossistema e nem à saúde pública".

Em situações onde a carcaça está descartada inadequadamente, equipes da Limpurb realizam a coleta e destinação final até o Aterro Metropolitano Centro – AMC.

*Sob a supervisão do jornalista Jean Mendes

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