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O artilheiro Richarlison, o “pombo”, postou nas redes sociais uma imagem de um “abraço” que deu em Neymar durante o jogo do Brasil na estreia da Copa do Mundo no Catar contra a Sérvia. A imagem gerou uma enxurrada de críticas sobre a “frieza” do jogador do PSG (FRA), que supostamente não compartilhou a alegria do gol. Celebridades, influenciadores, atletas, entre diversas outras figuras notórias, quase que imediatamente, se manifestaram em diferentes tons, mídias e linguagens; Neymar, de fato, não é mesmo uma unanimidade.
O episódio Neymar mostra como o problema das Fake News vai muito além do esporte e caminha na articulação eleitoral em grupos de apoiadores radicais. Levanta também como a desinformação está incrustada na sociedade brasileira atual. Há um longo caminho a ser percorrido e a sutileza de certas táticas comunicacionais para induzir ao erro mostra que o jogo da desinformação (em busca de likes e lucro) não tem lado político; ativismo, ou simplesmente torcer para um esporte, pois para muitos, se tornou, de fato, um grande negócio.
Não é possível usar uma simples imagem (um frame) para justificar um contexto que não cabe na imagem. E os ângulos? Quais são as outras imagens? Quais situações devem ser consideradas? Isso não é muito diferente do fanático político ou do manipulador pragmático que pincela um corte da entrevista (ou do debate) para gerar desinformação e incendiar a bolha para polarizar (e muitas vezes lucrar).
E vai muito além de um problema que precisa simplesmente ser mitigado pelas grandes plataformas digitais. Ou construímos uma sociedade melhor, evitamos a polarização, ou usamos a comunicação para induzir ao julgamento fácil, para reforçar as próprias narrativas, para esgarçar o tecido social ou para contribuir com mais beligerância.
Vivenciamos uma fragmentação do público e uma “liquefação da política”. Uma das principais consequências deste cenário é um jogo de interesses para certos grupos (ou indivíduos) se afirmarem em detrimento da legitimidade de outros, custe o que custar. Poucas coisas são tão prejudiciais ao momento brasileiro que manipular uma simples imagem.
*Gabriel Rossi é sociólogo, professor e pesquisador de Comunicação da ESPM
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