IGO ESTRELA/METRÓPOLES |
Ronaldo Rocha, 24 anos, saiu de Barreiras, no
interior da Bahia, para realizar o sonho de se tornar jornalista na capital
federal.
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Ronaldo
entrou e logo foi ovacionado pelas pessoas presentes. Não conseguiu conter as
lágrimas. “A vassoura e o balde significam e exemplificam tudo que passei para
chegar até aqui, todas as dificuldades e obstáculos. Hoje é um dia de muita
felicidade e orgulho.”
Muito emocionada, a avó de Ronaldo, Valdeci Araújo
Novaes, 68, conta como foi a festa organizada pela família para a recepção
do neto. “Foi uma alegria muito grande ver as pessoas chegando. Todas
orgulhosas do esforço que ele fez para realizar esse sonho desde pequenininho.
Essa paixão dele por jornalismo foi algo que desde sempre eu olhava e
admirava”, disse.
“A gente que é do interior tem essa visão de que
quem mora na capital tem dinheiro, então, decidi vir para Brasília morar com
meu primo. Queria mostrar para meu pai que conseguiria realizar o sonho de me
tornar cineasta e jornalista. Quando voltei, fui recebido com essa festa maravilhosa”,
disse Ronaldo ao Metrópoles.
Ronaldo: exemplo de
superação para parentes, amigos e colegas de profissão
Dificuldades
O caminho percorrido por ele, no entanto, não foi
nada fácil. Ronaldo lembra das dificuldades que passou quando bateu na porta do
primo para pedir abrigo. Na capital, conta já ter feito de tudo, mas foi com o
trabalho de babá que pôde comprar uma filmadora de R$ 800 que mudou sua vida
para sempre.
Apaixonado pelo filme amador “Ai que Vida”,
dirigido pelo maranhense Cícero Filho e lançado em 2008, decidiu seguir os
passos do cineasta e começou a escrever o roteiro de sua própria película.
Até então apenas sonhos, os curta-metragens “Agindo
sem Pensar” e “Marcas da Dor” saíram do papel quando o agora jornalista
conseguiu reunir atores, produtores e até mesmo viaturas policiais da Cidade
Estrutural.
O dinheiro para as produções veio de um trabalho
que também mudou sua vida. Na época das gravações, Ronaldo trabalhava como
faxineiro na escola onde concluiu o ensino médio, o Centro Educacional
1 da Estrutural (CED 1) – hoje, uma das unidades educacionais públicas do
DF que aderiu ao modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar.
Após
a conclusão do ensino médio, o jovem se viu tentado a voltar para sua cidade
natal, pois sofria com a falta de oportunidades. “Meu primo pediu para eu sair
de casa. Ele ia se casar e não me queria lá. Fui morar num barraquinho de
madeira e, depois, em uma lojinha. Só tinha o meu colchão e uma casa com minhas
roupas”, lembra.
Quem ofereceu um lugar para o jovem ficar foi a
amiga e atriz de um dos seus curtas Elioene Leão Dias, 58. Foi nos fundos da
loja da comerciante que Ronaldo morou enquanto cursava jornalismo. “Ele me
procurou dizendo que não podia mais ficar na casa do primo, mas que estava atrás
de um sonho e queria continuar em Brasília. Logo concordei, disse que ele
poderia ficar o tempo que quisesse”, lembra Elione.
A amiga esteve na formatura de Ronaldo e se
emocionou com a entrega do diploma. “A gente fica imensamente feliz, estou
muito emocionada. É um garoto que batalhou e que trabalha muito. Será um
excelente jornalista, tenho fé.”
Voluntário
Na escola onde estudou e depois trabalhou, Ronaldo
sempre foi querido pelos alunos e chegou a realizar trabalhos voluntários como
professor de cursos de gastronomia, dança, mágica e até teatro para crianças
carentes. Apesar de “pegar no batente” das 6h às 14h em troca dos R$ 834 que
ganhava, ele afirma que foi o salário que o permitiu financiar seu sonho.
“Vendia
o tíquete-alimentação para pagar o aluguel e usava o dinheiro para pagar a
mensalidade da faculdade, que, apesar de custar R$ 1,5 mil, me permitiu pagar a
metade do valor. Não sobrava quase nada para comprar coisas para mim. Tinha que
fazer as refeições na escola, graças à ajuda da diretora, que gostava muito de
mim”, afirmou o agora jornalista ao Metrópoles.
Paixão antiga
Segundo conta, a paixão pela área e pelo
audiovisual “vem desde moleque”. “Sempre me interessei por cinema e jornalismo,
mas na minha cidade sabia que nunca teria oportunidade. Quando ainda estava na
escola, vendia salgados e, com o dinheiro que ganhava, pagava a lan-house, onde
pesquisava o que era preciso para me tornar jornalista”, disse.
O sonho do jovem começou aos 12 anos, e o amor pelo
jornalismo tornou-se ainda maior quando passava pelo caminho que fazia sempre
até a casa de sua avó, no interior da Bahia. “Ia de bicicleta e vi uma equipe
de TV gravando. Fiquei em choque, acompanhando de perto todo o trabalho dos
jornalistas, estava fascinado. Naquele dia, decidi que era isso que queria para
minha vida”.
Hoje, após a longa jornada, Ronaldo inicia uma nova
etapa da vida: a de profissional da imprensa recém-formado.metropoles